sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Encontro da IAM com o Papa


Por ocasião do Ano Paulino, o Secretário Internacional e a Secretaria Nacional para a Itália da Pontifícia Obra da Santa Infância (Infância e Adolescência Missionária) organizaram uma peregrinação paulina a Roma das crianças e adolescentes missionários provenientes da Itália e de alguns países europeus.
Ao meio-dia do dia 30 de maio, o Santo Padre Bento XVI recebeu em audiência cerca de 5 mil participantes da peregrinação, com os seus acompanhantes.Depois da saudação do Cardeal Ivan Dias, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, e de duas crianças, o Papa respondeu espontaneamente às perguntas feitas a ele pelos adolescentes, que publicamos a seguir.
1. Meu nome é Ana Filippone, tenho 12 anos, sou coroinha, venho da Calábria [Itália], Diocese de Oppido Mamertina-Palmi. Papa Bento, o meu amigo Giovanni tem o pai italiano e a mãe equatoriana e é muito feliz. O Senhor pensa que as várias culturas um dia poderão viver sem brigar em nome de Jesus?
Santo Padre: Entendi que vocês querem saber como nós, quando crianças, fazíamos para ajudar-nos reciprocamente.Devo dizer que vivi os primeiros anos do Ensino Fundamental numa pequena cidade de 400 habitantes, muito distante dos grandes centros. Éramos, portanto, bem simples, e nesta cidade havia, de um lado, agricultores muito ricos, e também outros menos ricos, mas que estavam bem de vida; e, de outro, empregados pobres, artesãos. A nossa família, pouco antes do início do Ensino Fundamental, tinha se transferido para esta cidade vindo de outra, e, portanto, éramos um pouco estrangeiros para eles, e também a língua local era diferente.Nesta escola, refletiam-se, pois, situações sociais muito diferentes. Havia, no entanto, uma bonita comunhão entre nós. Ensinaram-me a língua deles, que eu ainda não conhecia. Colaborávamos bem, e, devo dizer, algumas vezes, naturalmente, também brigávamos; mas depois nos reconciliávamos e nos esquecíamos do que havia acontecido. Isto me parece importante.Algumas vezes na vida humana parece inevitável brigar; mas o importante permanece, de qualquer forma, a arte de reconciliar-se, o perdão, recomeçar de novo e não deixar amargura na alma.Lembro-me, com gratidão, de como todos colaborávamos: um ajudava o outro e caminhávamos juntos no nosso caminho. Todos éramos católicos, e isto era naturalmente uma grande ajuda. Assim aprendemos juntos a conhecer a Bíblia, começando pela Criação até o sacrifício de Jesus na cruz, e depois também os inícios da Igreja.Aprendemos juntos o Catecismo, aprendemos juntos a rezar, juntos nos preparamos para a primeira Confissão, para a Primeira Comunhão. Aquele foi um dia esplêndido. Tínhamos entendido que o próprio Jesus veio até nós e que Ele não é um Deus distante: entra na minha própria vida, em minha própria alma. E, se o próprio Jesus entra em cada um de nós, nós somos irmãos, irmãs, amigos, e devemos, portanto, nos comportar como tal. Para nós, esta preparação, tanto para a primeira Confissão quanto para a purificação das nossas consciências, das nossas vidas, e depois também para a Primeira Comunhão, como encontro concreto com Jesus que vem até mim, que vem até nós, foram fatores que contribuíram para formar a nossa comunidade. Ajudaram-nos a caminhar juntos, a aprender juntos a reconciliar-nos, quando era necessário.Fazíamos também algumas pequenas apresentações: é importante também colaborar, ter atenção uns para com os outros. E, depois, com oito ou nove anos me tornei coroinha. Naquele tempo ainda não havia as coroinhas, mas as meninas liam melhor do que nós. Portanto elas liam as leituras da liturgia, nós éramos os coroinhas. Naquele tempo ainda havia muitos textos em latim que tínhamos de aprender, assim cada um tinha a sua parte de esforço a ser feito.Como eu disse, não éramos santos: tivemos as nossas brigas, mas, seja como for, existia uma bonita comunhão, na qual as distinções entre ricos e pobres, entre inteligentes e menos inteligentes não contavam. Era a comunhão com Jesus no caminho da fé comum e na responsabilidade comum, nas brincadeiras, no trabalho comum. Achamos um jeito de viver juntos, de ser amigos, e, embora desde 1937, ou seja, desde há mais de setenta anos atrás, eu não tenha mais voltado àquela cidade, ainda continuamos amigos. Aprendemos, portanto, a aceitar-nos uns aos outros, a carregar os pesos uns dos outros. Isto me parece importante: não obstante as nossas fraquezas, aceitávamo-nos e, com Jesus Cristo, com a Igreja, encontrávamos juntos o caminho da paz e aprendemos a viver bem.
2. Meu nome é Letícia e gostaria de fazer-lhe uma pergunta. Querido Papa Bento XVI, quando o senhor era garoto, o que significava para o senhor o lema “As crianças ajudam as crianças”? O senhor pensou alguma vez que se tornaria papa?Santo Padre: Para dizer a verdade, eu nunca teria pensado em me tornar papa, porque, como eu já disse, eu era um menino muito simples, que morava numa pequena cidade, muito distante dos centros, em um lugar esquecido. Éramos felizes por viver neste lugar e não pensávamos em outras coisas. Naturalmente, o Papa, que era Pio XI, era conhecido, venerado e amado por nós, mas para nós era uma altura inacessível, quase um outro mundo, quase: era nosso pai, mas, seja como for, uma realidade muito superior a todos nós. E devo dizer que ainda hoje tenho dificuldade de entender como o Senhor pôde pensar em mim, destinar a mim este ministério. Mas aceito-o de suas mãos, embora seja algo surpreendente e que me parece muito além de minhas forças. Mas o Senhor me ajuda.
3. Querido Papa Bento XVI, meu nome é Alessandro. Gostaria de perguntar-lhe: o senhor é o primeiro missionário; nós, jovens, como podemos ajudá-lo a anunciar o Evangelho?Santo Padre: Eu diria que o primeiro modo é este: colaborar com a Pontifícia Obra da Infância Missionária. Assim vocês fazem parte de uma grande família que leva adiante o Evangelho no mundo. Assim vocês pertencem a uma grande rede. Vejamos aqui como se espelha uma família de diferentes povos.Vocês estão nesta grande família: cada um faz a sua parte e, juntos, são missionários, levando adiante a obra missionária da Igreja. Vocês têm um bonito programa, como disse a porta-voz de vocês: escutar, rezar, conhecer, partilhar, solidarizar. Estes são os elementos essenciais, que realmente são um modo de ser missionário, de levar adiante o crescimento da Igreja e a presença do Evangelho no mundo. E gostaria de destacar alguns destes pontos.Acima de tudo, rezar. A oração é uma realidade: Deus escuta-nos, e, quando rezamos, Deus entra nas nossas vidas, torna-se presente entre nós, atuante. Rezar é muito importante, pode mudar o mundo, porque torna presente a força de Deus. E é importante ajudar-se a rezar: rezemos juntos na liturgia, rezemos juntos na família. E, aqui, eu diria que é importante começar o dia com uma pequena oração, e, depois, também terminar o dia com uma pequena oração: lembrar dos pais na oração. Rezar antes do almoço, do jantar e por ocasião da celebração em comum do domingo. Um domingo sem a Missa, a grande oração comum da Igreja, não é um verdadeiro domingo: fica faltando justamente o coração do domingo, e, assim, também a luz para a semana. E vocês também podem ajudar os outros – especialmente, quando talvez não se reze em casa, não se conhece a oração –, ensinar os outros a rezar: rezar com eles e, assim, iniciar os outros na comunhão com Deus.Depois, escutar, ou seja, apreender realmente o que Jesus nos diz. Além disto, conhecer a Sagrada Escritura, a Bíblia. Na história de Jesus conhecemos – como disse o Cardeal – a face de Deus, aprendemos como é Deus. É importante conhecer Jesus profundamente, pessoalmente. Deste modo, ele entra em nossas vidas, e, mediante as nossas vidas, entra no mundo.E, também, partilhar, não querer as coisas só para si mesmos, mas para todos; dividir com os outros. E, se virmos outro que talvez tenha necessidade, que seja menos dotado, devemos ajudá-lo, e, assim, tornar presente o amor de Deus, sem muitas palavras, no nosso pequeno mundo pessoal, que faz parte do grande mundo. E, assim, tornamo-nos juntos uma família, na qual uns respeitam os outros: suportar o outro na sua alteridade, aceitar justamente até mesmo os antipáticos, não deixar que ninguém fique marginalizado, mas ajudá-lo a inserir-se na comunidade.Tudo isto significa simplesmente viver nesta grande família da Igreja, nesta grande família missionária. Viver os pontos essenciais como a partilha, o conhecimento de Jesus, a oração, a escuta recíproca e a solidariedade é uma obra missionária, porque ajuda a fazer que o Evangelho se torne realidade no nosso mundo.

Fonte da Noticia: Agência Fides - Junho de 2009

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