sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ação Missionária Ano 01/ Nº. 05 – Julho/ 2011

Realizou-se nos dias 22 a 26 de Junho/2011, a nível de Regionais Sul (SP, PR, SC, RS e MS) o Curso para Animadores Missionários. Achei interessante passar o conteúdo abaixo para ser refletido agora no mês de julho.
Boa leitura e reflexão!
Leka Paim


A missão hoje e seus protagonistas

Pe. Estevão Raschietti (Missionário Xaveriano e Diretor do Centro Cultural Missionário – CCM)

Dois documentos fundamentais: Documento de Aparecida (DAp) e as Novas Diretrizes para a Ação Evangelizadora (DGAE).

A Conferência de Aparecida já identificara que vivemos uma mudança de época. Mais que uma época de mudanças, vivemos uma mudança de época. “Enquanto, em outros períodos da história, os discípulos missionários precisavam dar as razões de sua esperança como consequência de critérios firmemente aplicados, em nossos dias, são os próprios critérios que vêm experimentando abalo. Para não poucas pessoas a incerteza sobre como julgar a realidade e com ela interagir é muito grande. Por isso, estamos em uma mudança de época, pois ela já não atinge alguns aspectos concretos da existência. As mudanças de época atingem os próprios critérios de compreender a vida, tudo o que a ela diz respeito” (DGAE 25)
Sobre o tema da mudança de época, atenção aos sinais dos tempos, e isso o fez a partir do livro Jesus hoje. Uma espiritualidade de liberdade radical, de Albert Nolan, que fala de quatro grandes sinais do nosso tempo:
· A crise do individualismo: enquanto ideal cultural do Ocidente (emancipação que isola);
· A fome de espiritualidade: como reação ao otimismo moderno (mito do progresso);
· O fenômeno da globalização e o surgimento de uma consciência planetária (o surgimento da globalização como resposta à exigência mercadológica-especulativa. Dinheiro precisa fazer dinheiro, nem que comprometa toda uma nação. Mas, na dupla face da globalização, dela nasce uma consciência planetária não permitindo que ninguém viva no isolamento);
· Uma nova visão cosmológica graças ao avanço da física quântica (admite-se como verdadeiramente válido somente aquilo que for cientificamente testado e comprovado);
· Avanço das tecnologias, como um quinto sinal dos tempos (somos e nos comportamos na perspectiva das tecnologias).

A missão no DAp
Ao tentar responder a esses anseios, Aparecida deu um grande lance ao tema da missão abordando três aspectos: a) o fundamento e a dinâmica da missão (“viver e comunicar a vida nova em Cristo”); b) a necessidade de uma metanóia pessoal e estrutural para tornar-se sujeito da missão (Conversão pastoral e renovação missionária das comunidades”); c) a necessária extensão da ação missionária para o mundo inteiro (“Nosso compromisso com a missão ad gentes”).
Esse esquema, fundamento – conversão – extensão, tenta responder a um dos propósitos principais da V conferência (cf. DAp 11). Ao mesmo tempo, retoma com vigor um eixo vital de Puebla: “A evangelização tem de calar fundo no coração do homem e dos povos. Por isso sua dinâmica procura a conversão pessoal e a transformação social. A evangelização há de estender-se a todos os povos; por isso sua dinâmica procura a universalidade do gênero humano. Ambos estes aspectos são de atualidade para evangelizar hoje e amanhã a América Latina” (Puebla 362).

Fundamento: viver e comunicar a vida nova em Cristo

A natureza missionária da Igreja

“A Igreja peregrina é missionária por natureza, porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai” (AG 2). Por isso, “o impulso missionário é fruto necessário à vida que a Trindade comunica aos discípulos” (DAp 347). Antes de ser uma atividade, a missão é da essência, da natureza da Trindade. Assim, a Igreja é, por natureza, missionária, porque participa da vida em Deus. E Deus é missão. O Vaticano II marca um divisor de águas, de uma Igreja missionante, que envia, passa-se a uma Igreja missionária, enviada. Como o Filho e o Espírito que são enviados do Pai, a Igreja não pode ter a pretensão de enviar. Ela, por sua natureza, é enviada.
“A grande novidade que a Igreja anuncia ao mundo é que Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a Palavra e a Vida, veio mundo para nos fazer ‘participantes da natureza divina’ (2Pd 1,4), para eu participemos de sua própria vida” (DAp 348). O nascimento da Igreja se dá na mudança de mentalidade dos apóstolos. Somente quando deixam de acreditar que Jesus veio para restabelecer Israel e sim para toda a humanidade universalmente, e os apóstolos vão anunciar o Reino de Deus aos pagãos (cf. At 11,19-21).
Jesus a serviço da vida
Compreender a missão não como necessidade histórica, as como essência gratuita de Deus Amor, significa, para o discípulo, adoção de uma prática jesuana de proximidade aos outros.
Deus é missão. Deus revela em Jesus seu rosto profundamente humano na aproximação a qualquer condição humana. Jesus convida qualquer pessoa, povo, sociedade a repensar Deus a partir d’Ele próprio, dessa sua vida e dessa sua missão, como Filho de Deus e Filho do Homem: “a todos nos toca recomeçar a partir de Cristo” (DAp 12). O partir de Cristo Jesus tem sentido de fonte, pois foi Ele quem revelou o rosto misericordioso de Deus. As ações e práticas de Jesus revelavam a grandeza e misericórdia de Deus. E nós, como missionários, devemos cultivar os mesmos sentimentos que em Cristo Jesus (cf. Fl 2,5).
Uma vida plena
“A vida em Cristo inclui a alegria de comer juntos, o entusiasmo para progredir, o gosto de trabalhar e de aprender, a alegria de servir a quem necessite de nós, o contato com a natureza, o entusiasmo dos projetos comunitários, o prazer de uma sexualidade vivida segundo o Evangelho, e todas as coisas com as quais o Pai nos presenteia como sinais de seu sincero amor” (DA 356). “A missão do anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo tem destinação universal. Seu mandato de caridade alcança todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da convivência e todos os povos. Nada do humano pode lhe parecer estranho” (DA 380).
Uma missão que comunica vida
A vida se acrescenta dando-a, e se enfraquece no isolamento e na comunidade. O Evangelho nos ajuda a descobrir que o cuidado enfermiço da própria vida depõe contra a qualidade humana e cristã dessa mesma vida. Vive-se muito melhor quando temos liberdade interior para doá-la. Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: ‘que a vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros’. Isto é, definitivamente, a missão” (DA 360).

Conversão: renovação missionária das comunidades

Conversão como saída

Aqui significa um andar para fora: um Êxodo, uma Páscoa. Aliás, a missão é uma verdadeira Páscoa: uma passagem, uma travessia. Corremos o risco de generalizarmos a ação missionária. Identificarmos tudo à missão. Se qualquer coisa é missão, a missão é qualquer coisa. E missão não é qualquer coisa, tem seu específico. A missão é ligada à perspectiva da saída. “A Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do Continente” (DA 362). “Nós somos, agora, na América Latina e no Caribe, seus discípulos e discípulas, chamados a navegar mar adentro para uma pesca abundante. Trata-se de sair de nossa consciência isolada e de nos lançarmos, com ousadia e confiança (parrésia), à missão de toda a Igreja” (DA 363).
Saída das estruturas
A primeira saída, então, que o DA aponta é das estruturas: “abandonar as estruturas caducas que já não favoreçam a transmissão da fé” (DAp 365). O envio missionário é expressão de uma ruptura com um envolvimento sistémico, com enquadramentos estruturais e institucionais, políticos e culturais, seculares e religiosos. “Esta firme decisão missionária deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais (DAp 365). Se pensarmos a paróquia, precisamos ter presente que a mesma não foi pensada para ser missionária, mas sim para manter congregados aqueles que já são participantes numa comunidade de fé. Agora, porém, urge repensar toda a estrutura paroquial buscando torna-la espaço de acolhimento e fraternidade. Para isso, entretanto, precisamos traçar algumas metas claras e, processualmente, buscar alcança-las.
Saída das pessoas
Se a primeira conversão toca às “estruturas mentais”, a segunda toca o coração das pessoas, sua capacidade de se deixarem tocar e interpelar pelas situações. A ação missionária nasce sempre de uma compaixão, que, por sua vez, surge de uma visão e de uma escuta (cf. Ex 3,7-8; Mt 9,36). É preciso, portanto, sair de si mesmos pra pôr-se nessa profunda atenção da realidade. O tema da conversão, antes de ser dirigido aos destinatários da missão, é apontado pelo DAp como exigência fundamental para a própria Igreja e de todos seus sujeitos.
Saída das relações
Só uma Igreja articulada em torno do princípio da comunhão e não da instituição, da dimensão equitativa do Povo de Deus e não da hierarquia, poderá ser “sinal e instrumento de reconciliação e paz para nossos povos” (DAp 162). Imediatamente, essa “comunhão e participação” deverá se refletir ad extra, na comunhão entre Igrejas no mundo inteiro. Nessa prática fundamental para sua identidade, a Igreja é chamada a sair de suas relações e a refazer continuamente novas relações.
Saída das práticas
É a saída das práticas pastorais corriqueiras e sacramentalistas: “a conversão pastoral de nossas comunidades exige eu se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (DAp 370). Uma pastoral de conservação apenas planeja as mesmas atividades de maneira repetitiva, sem reflexão, sem pensar na missão. Somos convidados a transformar o nosso próprio agir. Aparecida faz um apelo para uma mudança de mentalidade em relação a um estilo projetual de fazer a missão. A prática, a missão, precisa ser planejada de forma participativa com nossas lideranças e fiéis, o Povo de Deus.

Saída das fronteiras
“O mundo espera de nossa Igreja latino-americana e caribenha um compromisso mais significativo com a missão universal em todos os Continentes. Para não cairmos na armadilha de nos fechar em nós mesmos, devemos formar-nos como discípulos missionários sem fronteiras” (DAp 376). “A graça de renovação não pode crescer nas comunidades, a não ser que cada uma dilate o campo da sua caridade até aos confins da terra e tenha igual solicitude pelos que são de longe como pelos que são seus próprios membros” (AG 37).

Extensão: nosso compromisso com a missão Ad Gentes
A missão hoje
A Igreja se encontra, hoje, numa situação de diáspora. Cidades e metrópoles substituíram aldeias em todos os continentes. Nesse contexto, a missão ad gentes amplia por inércia seu âmbito de ação. Identificam-se três situações: a) a missão ad gentes, b) nova evangelização, c) cuidado pastoral. “Tarefa primeira da Igreja, a de ser enviada a todos os povos” (RMI 34).
O Bom Pastor
• Trata-se de um modelo aplicável ao cuidado pastoral (cf. RMi 33).
• É uma missão no espaço do redil.
• É uma missão que desenvolve uma relação pessoal, intima, com seus destinatários (chama pelo nome, as ovelhas “ouvem”, “reconhecem”).
• É uma missão onde o pastor é guia que acompanha fora do redil.
• É uma missão onde se dá a vida.
O Semeador
• Trata-se de um modelo aplicável à nova evangelização (cf. RMi 33).
• É uma missão no espaço do campo.
• É uma missão que lança sementes de mão larga em todos os terrenos, sem excluir nenhum.
• É uma missão na mais absoluta gratuidade: a semente brota sozinha (cf. Mc 4,27), Deus faz crescer (cf. 1Cor 3,7).
• É uma missão marcada pela esperança.
O Pescador
• Trata-se de um modelo aplicável à missão ad gentes (cf. RMi 33).
• É uma missão em alto mar.
• É uma missão que lança as redes sem alguma certeza de pegar alguma coisa.
• É uma missão na qual a Igreja descobre sua verdadeira vocação no deixar-se conduzir só pela palavra.
• É uma missão marcada pela pura fé.

Devemos, em nossas paróquias e dioceses, trabalhar um plano de ação missionária que articule as três figuras, o pastor, o semeador e o pescador, em novos ambientes e territórios de missão.
Considerações - Pe. Estevão:
Protagonistas da missão: a comunidade eclesial precisa de duas dimensões: a pastoral e a animação missionária, esta tem a função de “animar” a ação. Seu principal mês é o missionário, para o qual tem material produzido pelas POM. Quem cuida da animação não deve fazê-lo sozinho, mas envolvendo os coordenadores das diferentes pastorais. Eis a função do Comidi. Sua função de Conselho é envolver para organizar e dinamizar encontros de animação missionária. Também na animação missionária deve surgir esta Igreja toda missionária, não somente em parte, por isso deve envolver. A missão, porém, não deve ficar só na animação. Ela serve como impulsionadora da ação, mas a ação é que tem papel de promoção.
Renovação das lideranças: a missão é sempre um projeto que tem um começo, um meio e um fim. Tem hora que o líder precisa sair para que outros possam seguir os trabalhos. Nosso serviço, dentro da Igreja, precisa estar em contínua renovação. Quando alguém se acha “dono do pedaço”, a ação enfraquece.
A dimensão da missão: há que se pensar que a missão precisa ser entendida universalmente, mas, também, localmente. Nem todos podem pensar em missão além fronteiras. Precisam algumas capacidades e, mesmo, condições para isto. Por isso, convém mais que os mais jovens sejam incentivados às missões em locais mais difíceis, tanto com relação ao ambiente quanto com relação a língua. Porém, a missão universal não é a única forma de missão. A ação missionária deve estar adequada às condições e situações.
Ação dos leigos: de acordo com suas condições, podem os leigos auxiliarem na ação evangelizadora da missão. Mas a eles também

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